quarta-feira, 8 de junho de 2011

Dados do Brava



Olá pessoal,

Já faz mais de duas semanas que estamos com o Brava no seco.
Nestas duas semanas trabalhamos incansavelmente para terminarmos a reforma o mais cedo possível. Minha previsão mais otimista era acaber em duas semanas. Hoje acredito que ainda levaremos mais uma para voltarmos para a água.

Como ainda não conhecem o nosso barco, vou falar um pouco sobre ele (na verdade é Ela = Brava).


Dados técnicos:
Modelo: Tatoosh 42 - Cutter
Projetista: Robert Pery
Estaleiro: Ta Shing Yacht Building - Taiwan
Tamanho: 42 pés (projeto) + plataforma de popa = 44 pés (aprox 13mt)
Linha dágua: 36,5 pés (11,4 mt)
Boca: 12,75 pés (3,9 mt)
Calado: 5´9 pés (1,8 mt)
Área Vélica: 800 ft2 (75 m2)
Matro: 15,5 mt
Deslocamento: 21.300 lbs (umas 10 toneladas)
Lastro: 8.700 lbs (4 toneladas)
Quilha: Cruising Fin Keel
Motor: VW 1.6 (48 hp) marinizado por Pathfinder Marine - Canadá (1.800 horas)
Tanque de Diesel: 70 gls (265 lts)
Tanques de água: 2 com 80 gls cada (mais de 600 total)

Para os teóricos, os dados acima já mostram muita coisa. Fazendo as correlações entre os números nota-se que o barco tem um projeto bem equilibrado, deslocamento médio, área vélica adequada, e outras teorias mais...
Mas... já sabem o que pensamos sobre barcos.
Estes dias encontrei um texto na internet que pode explicar melhor nosso sentimento:

"A boat is more than the sum of it's pieces... it's how all the parts work together. If you only look at the rudder or the keel or the waterline or the displacement or the ballast or the rig, you will miss the magic that brings all of those elements together and creates the spirit of a boat, the thing that makes it seaworthy and seakindly and a vessel in which you can place your trust and your life... and those of your loved ones.
There is science and there is art. Boat design is both of these things as well as a bit of magic..."

"Um Barco é mais que a soma de suas partes... é como todas as partes funcionam juntas. Se você só olhar para o leme, a quilha ou a linha dágua ou o deslocamento ou o lastro ou a mastreação, você estará esquecendo da mágica que junta estes elementos e cria o Espírito de um Barco, a coisa que o faz ser marinheiro e navegador e ser um barco em que você possa depositar sua confiança e sua vida... e a vida dos seus amados.
Existe a ciência e existe a arte. Projetar um barco envolve ambas, incluindo uma pitada de mágica..."

Nosso Veleiro foi projetado por um artista extremamente técnico com frequentes acessos de magia que o fizeram ser um dos mais renomados projetistas de Veleiros do mundo.
Como existem diferenças entre carros, pranchas, etc, de acordo com o uso que será dado aos mesmos, também existem diferenças de conceitos dos projetos de Veleiros de acordo com o uso a que serão submetidos. Existe carro para andar rápido, carro para andar no mato, carro para desfilar. Também existem Veleiros assim, para correr regatas, para ir para a Antártica e Barcos para passear (desfilar). Como existem pranchas laminadas fininhas para ajudar na velocidade e projeção nos aéreos, existem pranchas reforçadas na laminação com tecidos exóticos como carbono e kevlar para aguentar bombas como em Puerto Escondido, também existem Veleiros leves e menos resisentes e existem Veleiros de aço, feitos para aguentar blocos de gelo.
Este projetista que concebeu o Brava, é renomado por projetar Veleiros de Cruzerio Longo, ou Blue Water Boats, barcos para atravessar oceanos e com conforto interno comparável e um bom apartamento.
Para explicar melhor o conceito do projeto, tenho que voltar à metade dos anos 70. Nesta época, a indústria náutica norte americana estava bombando, milhares de barcos sendo construídos anualmente, era o começo da era industrial de produção, do uso em larga escala da fibra de vidro.
Mas existiam praticamente duas linhas de projetos.
Uma atendia os regateiros, os que gostam de velocidade, e a outra linha atendia os cruzeiristas, que queriam barcos seguros e confortáveis para viajar e viver com a família.
Uma se destacava na velocidade, outra no conforto. Um barco podia pesar o dobro do outro do mesmo tamanho só porque seguia a linha oposta. Pesar o dobro e andar a metade, mas ter conforto para a turma a bordo aguentar o dobro de tempo sem ter que parar para descansar na terra.
Aí é que começa a Magia.
O tal do Robert Perry (agora nosso amigo Rob), fez uma coisa simples de entender.
Juntou as características do shape do fundo dos barcos da classe IOR (classe de regata) e colocou abaixo da linha dágua, e acima colocou as características de um bom barco de cruzeiro.
Assim nasceu o projeto do Valiant 40, que o colocou no Hall of Fame dos boat designers e que hoje é reconhecido como o projeto que mais deu a volta ao mundo (N de barcos produzidos/n de barcos que circunavegaram).
Nosso barco tem o projeto com estas características, com o layout mais moderno. Foi idealizado em 1980, desenhado na prancheta, com lápis e borracha, mas com algumas modelagens com auxílio de computadores, principalmente da quilha e das curvas de velocidade e angulo de orça.
Apesar de ser um barco extremamente confortável, não pesa tanto (10 toneladas em 44 pés). Anda bem mesmo com uma mastreação mais conservadora (não regateira), que dá mais facilidade na movimentação das velas por parte de um casal.
Sua releitura do formato da quilha também é considerada revolucionária. Seus projetos são bem conhecidos pela capacidade de orça (andar contra o vento). Mantém bem o rumo devido ao formato da quilha (bem mais longa que uma fin keel, bem menor que uma full keel), mas tem um excelente raio de giro.
Armado em Cutter, faz com que tenhamos duas velas de proa (além do Gennaker), para facilitar o trabalho em diferentes velocidades de vento. Nos ventos mais brandos usa-se a genoa 150%, famoso Genoão, nos ventos mais fortes usa-se o inner stay, com sua staysail, ou Working Jib, que reduz em muito a área vélica e traz o centro de gravidade para o meio do barco, ajudando no seu equilíbrio. A vela grande é full batten (super moderna), que ajuda ainda mais no contra vento e possui 2 forras de rizo, ou seja, dois pontos para reduzir seu tamanho de acordo com a intensidade do vento. O mastro é passante, apoiado sobre a quilha (mais difícil para cair) e armado no tope (todos os cabos que o sustentam seguem até o topo do mastro).
Os estaiamentos (cabos de aço que seguram o mastro) são um tamanho acima do padrão para barcos com este deslocamento. Possui além dos estais de proa e popa, brandais e ovéns, mais um força a vante e um a ré.
Por ser armado em Cutter possui Running Back para ajudar a distribuir as forças no meio do mastro quando em uso da stay sail em ventos mais fortes.
Todos os cabos seguem para o cockpit. Para subir ou descer uma vela não precisamos sair da area segura do barco. Até os cabos de rizo seguem para o cockpit. Para dar mais segurança, ao redor do mastro existe granny bars, guarda corpo para poder trabalhar no pé do mastro apoiado e em segurança.
Os trilhos para regulagem da escota da genoa possuem mais de 3 metros, permitindo uma infinidade de regulagens. Os passadiços são largos, com espaço suficiente para galões de água e combustível e ainda sobra para passar caminhando confortavemente. Apoios para as mãos por todo lado, garantindo ainda mais a segurança a bordo.
Cockpit profundo, muito espaçoso e seguro, com catracas self tailing ergonomicamente posicionadas. Espaço suficiente para 6 pessoas velejarem em conforto.
Ainda temos o bônus da plataforma de popa adicionada posteriormente pelo primeiro proprietário, que fez o barco ganhar dois pés e uma plataforma de primeira, com ducha quente e fria. Esta plataforma ajuda muito no embarque e desembarque, além de facilitar a vida na hora do banho de mar.
O leme é leve, com o barco respondendo rápido. Mais uma prova do bom equilíbrio do projeto.
O interior mostra ainda mais a Magia do Rob Perry. A barco é uma casa. Temos dois quartos, de excelente tamanho, cada qual com uma cama de casal de tamanho considerável, penteaderia, armários, gavetas, gavetões e sapateiras. Cada cabine possui dua vigias e uma gaiúta, garantindo bom fluxo de ar e luz. Caso o calor aperte, possuem ventiladores. Ainda com calor? Liga o ar condicionado. Na cabine de popa temos um 6.500 BTU e na de proa um 12.000 BTU que também atende o salão.
O salão possui mais dois sofás enormes, com uma mesa de jantar gigante no meio. Na sala de jantar já confratenizaram 8 adultos e uma criança sem atropelos.
A cozinha é realmente uma cozinha. Em formato de U, ajuda muito na hora de cozinhar em mar aberto. O fogão é basculante, balança de acordo com o balanço do barco. A pia é enorme e bem profunda, além de ser próxima ao centro do barco, que ajuda a não acumular água. Geladeira muito maior do que precisamos, freezer de tamanho mais adequado. A mais de um mês não ligamos a geladeira e ainda não conseguimos encher o freezer. Armários por todos os lados para ajudar a ter todos os utensílios necessários, alem de um rack de temperos com espaço para 22 tubos de temperos.
O banheiro é enorme para o tamanho do barco, com sanitário manual e área separada para a ducha. O tamanho é tal que estamos pensando em colocar uma maquina de lavar roupas na área do box, pois na metade dá para tomar banho em dupla.
A construção e de primeiríssima qualidade. O estaleiro que o construiu é considerado a mais de 30 anos um dos melhores do mundo. Possuem florestas próprias aonde extraem as madeiras. O proprietáro vai e escolhe a tora que quer para seu barco. A qualidade dos acabamentos em madeira é surpreendente. O barco também foi bem pensado na sua manutenção, com os sistemas bem acessíveis (exceto algumas passagens de mangueiras e fios), com armário para roupas molhadas, lâmpadas estrategicamente posicionadas, etc.
No projeto original existia mais uma cama junto à mesa de navegação. No nosso barco ela foi eliminada e transformada em paiol, aonde ficam as baterias e compressores da geladeira e freezer, além dos controladores de carga e do controlador dos painéis elétricos. Tudo bem organizado e seco.
Na mesa de navegação cabe uma carta dobrada ao meio (ideal), e tem-se fácil acesso ao painel elétrico e aos instrumentos de navegação.
O motor é um VW AP 1.6 48 hp (primo dos Control aí do Brasil), marinizado por uma empresa do Canadá chamada Pathfinder Marine. Serviço muito bem feito. Atualmente o motor está com 1800 horas, ou 1/5 da sua vida útil. Deu trabalho no começo, mas agora (depois de trocar as mangueiras, os filtros, rotores, solenóide, 4 bicos injetores, regular os cabos de aceleração e câmbio, bem como o óleo de caixa e motor e o coolant (agua doce), parece que estamos virando amigos.
O hélice é Folding, as pás se dobram para diminuir o arrasto. O leme é protegido por Skeg.
Possuímos 270 watts de paineis solares e mais um gerador a gasolina Honda 2Kva para manter as baterias saudáveis.
Um inflavel 9 pés com fundo rígido e um motor de "apenas" 25hp nos dão mobilidade...
O resto é escolher o próximo destino.

Como podem notar, o barco é mágico!!!
Conforto e segurança. Aliados com performance e autonomia.... Magia pura!!!

Com as placas solares, o captador de água e o espaço nos armários, este barco tem autonomia apenas limitada pelo consumo de combustível.
Ainda bem que somos movidos a vento!!!

Abração
Manuel e Rafinha

8 comentários:

estaleiro artesanal disse...

Fico muito contente em ver voces realizando um sonho tão especial.

Um abraço bem apertado!

Diogo disse...

Oi Mané,Oi Rafa!
É o Diogo,primo da Mari.....
Recebi e-mail dela com o blog de voces....gostei do Brava....parabéns!
Agora sim,estão com tudo.
A Albatania manda um beijo para voces.
Aproveitem...

Abrs

Diogo

marcosvela disse...

Mané, que casão, digo, que barcão, desculpe, é que depois do que lí, fico um pouco confundido,rs,rs,rs...
MARAVILHA!!! Agora sim, estão a bordo do sonho. Fico feliz por voce e a Rafinha!
Beijos pra voces!

Marcos

Frossard disse...

Fico feliz por voces. Passei por parte desses sentimentos no ano passado (eu nao construi nenhuma casa, rs) e sei como esses encontros sao bons. Parabens e aproveitem.
Heitor (de Horta...)

Manuel Alves disse...

Valeu Beto, vou te mandar as fotos do Warram esta semana.
Diogo e Albatania, obrigado pelo apoio! Abração.
Marcão, quando acaba teu Tiki?
Heitor, saudade do amigo... conseguiu trazer o barco da Horta? Mantem contato e aparece.

Anônimo disse...

Oi meus queridos!!!!!!um bj no coração de vcs.... adorei a descrição que vc fez Mané, já não me sinto tão burra em relação a barco hehehe o BRAVA esta me ensinando.... preciso ser BRAVA
amo vcs
maroca e ninha

Anônimo disse...

Bom dia, Rafa e Mané

Vocês estão de parabéns por este excelente veleiro.Há algum tempo procurava encontrar um barco assim.Mas pra mim ainda é um sonho ,mas é preciso sonhar com a condição de crer em nossos sonhos e de realizar um feito desses.Gostaria saber o custo desse barco? E começar juntar do zero ,pra poder ter tudo isso que vocês conquistaram.Felicidades e abraço amigo de Marcos Augusto(maas.18@hotmail.com;teiadearanha07@yahoo.com.br)

Anônimo disse...

Parabenizo a dupla pelo sonho realizado! Assim como vocês, eu e minha esposa também temos o objetivo de ter um barco e velejar pelo mundo. Gostaríamos de saber como foi a aquisição do seu barco (planejamento, investimento, tempo etc). Toda informação que puder nos disponibilizar será muito preciosa, pois estamos nos organizando em busca desse objetivo.
Desde já agradecemos sua atenção e ansiamos seu conato.
Denilson do Vale capstrw@hotmail.com